segunda-feira, 26 de outubro de 2009

mais do que falar, por vezes ler

a mais cara das jóias

A mais cara das jóias

Sentado atrás do balcão da sua loja, o velho Peter sentia-se seguro como um castelão sobre as muralhas da sua praça fortificada. Décadas de investimentos, contas rígidas e muito tino comercial tinham edificado aquela espécie de pequena fortaleza económica. A inscrição gravada em letras douradas na grossa placa de madeira que encimava o seu estabelecimento bem simbolizava tudo isso: Loja de Penhores Peter Argern.

Em todos os seus negócios observava uma série de regras estritas, fruto da experiência adquirida a duras penas. E a primeira era esta, que ele fazia questão de repetir ao longo do dia: “Nunca confie em ninguém”. E repetia, por três vezes, a primeira palavra dessa sua frase preferida: “Nunca, nun-ca, nun-ca”.

Os mais velhos da cidade contavam que Peter passara por situações difíceis, não só quando menino, mas também quando adulto, no mundo dos negócios. Desde então, votara a uma desconfiança mortal toda a humanidade. Abandonara completamente a religião, pois considerava uma tolice tudo quanto falavam os padres a respeito de perdão e misericórdia. Era a última pessoa de quem se poderia esperar um acto de compaixão, ou sequer de compreensão.

Assim, o seu sentido de desconfiança tornou-se mais intenso quando, certa manhã, uma menina entrou na loja, ficou longo tempo parada com o nariz colado numa montra, com os olhos fixos num dos objectos ali expostos, tendo depois saído sem dizer palavra. Era justamente o mostruário das jóias, o mais estimado pelo velho Peter. E o objecto pelo qual a menina demonstrara tanto interesse era um precioso colar de safiras azuis, que há anos repousava ali, sobre veludo negro.

Na manhã seguinte repetiu-se a mesma cena. Mais desconfiado ainda, o experimentado comerciante perguntava-se: teria algum ladrão enviado aquela criança para obter informações sobre os valores existentes na loja? Precavido, mandou um dos seus empregados mais espertos seguir discretamente a menina, quando ela se retirou. Antes do almoço, o rapaz regressou com algumas informações: ela era órfã e morava numa pobre casa a vários quarteirões dali, com a irmã mais velha, que tinha cerca de 25 anos, e outra irmã muito doente, esta com menos de 5 anos; não tinha ligação com nenhuma pessoa suspeita.

Como explicar, então, o seu interesse pelo precioso colar? Talvez não passasse de um simples encanto infantil. Peter torceu o nariz, resmungou algo e, encolhendo os ombros, mandou o rapaz retomar o seu trabalho, enquanto ele fazia o mesmo, detrás do seu querido balcão. No dia seguinte, lá estava de novo a menina... Com certa surpresa do velho Peter, ela não se dirigiu para a montra do colar, mas caminhou direita ao seu balcão. Pôde então observá-la mais de perto.

Era magra e tinha, no máximo, sete anos. Trajava um vestido muito pobre, mas irrepreensivelmente limpo. Os seus cabelos loiros estavam atados por um laço que quase se desfazia, de tão gasto; no entanto, poucas vezes vira um laço feito com tanto esmero. Os seus dois olhos azuis e brilhantes destacavam-se no rosto pálido e inocente.

Sem desviar o olhar da menina, e contrariando os seus princípios, Peter Argern perguntava-se como pudera desconfiar de uma criatura tão frágil e cândida, quando ela o despertou das suas cogitações.

— Por favor, senhor, eu queria comprar aquele colar bonito.

— O quêêê? Comprar? E... quanto dinheiro tens?

Como resposta, ela tirou do bolso um velho lenço todo amarrado e começou a desfazer os nós. Abriu-o e colocou o conteúdo sobre o balcão. Era apenas um punhado de moedas de pouco valor. Mas ela, orgulhosa, perguntou:

— Isto dá, não dá? Consegui todo este dinheiro a tirar neve do passeio dos vizinhos. Olhe, eu quero dar este colar de presente à minha irmã mais velha. Desde quando o papá se foi e a mamã morreu, ela cuida muito de mim e da minha irmã, e não tem tempo para si mesma. Hoje é o seu aniversário, e o senhor sabe, ela nunca recebe nada. Às vezes ouço-a a chorar de noite, no quarto. Ela vai ficar muito feliz com este colar, que é da cor dos olhos dela!

A sinceridade luzia no rosto da pobre menina. Esse gesto de inocente gratidão abalou todas as convicções mesquinhas acumuladas pelo velho Peter ao longo da sua vida egoísta. Lembrou-se da sua própria infância e das pessoas que o haviam protegido na aurora da sua existência. Com os lábios a tremer, foi buscar o colar.

Sob o olhar transbordante de alegria da criança, ele acomodou-o delicadamente num estojo de veludo, embrulhou-o num vistoso papel de presente e arrematou o conjunto com um belo laço de cetim azul. Recebeu o “pagamento” daquelas pequenas mãos e, com um afago, despediu-se da sua singular compradora.

Antes do fim da tarde, uma jovem aflita entrou, com passos rápidos, na loja de penhores. O mesmo estilo de vestido pobre e os grandes olhos azuis não deixavam a menor dúvida de que se tratava da mencionada irmã mais velha. Com um gesto firme, ela colocou o estojo de veludo sobre o balcão e abriu-o, fazendo reluzir a maravilhosa jóia de safiras azuis.

— Este colar é da sua loja?

— Sim — respondeu o comerciante.

Com a voz carregada de angústia, ela inquiriu:

— Diga-me com sinceridade, a minha irmã roubou-o daqui?

— De modo algum! A sua irmã comprou-o honestamente, hoje de manhã.

— Mas como?! A pobre não tinha mais que umas poucas moedas! Mesmo se vendêssemos dez vezes tudo quanto temos, nem de longe poderíamos comprar uma só destas safiras!

Com um gesto delicado, o velho Peter devolveu-lhe o estojo, e disse:

— Ah! a menina está enganada... A sua pequena irmã pagou o preço mais alto que qualquer pessoa pode pagar.

E, acentuando três vezes a palavra “tudo”, explicou:

— Ela deu tudo, tudo, tudo o que tinha, só para a ver feliz.

Na manhã seguinte, para surpresa do pároco, o velho Peter apresentou-se bem cedo na igreja. Queria fazer uma boa confissão, disposto a reparar toda uma vida de egoísmo e insensibilidade para com o próximo.

E as irmãs órfãs nunca mais sofreram privações, pois desse dia em diante passaram a contar com um rico e generoso protector...

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Texto Budista

namasté

Não posso deixar de partilhar um texto budista que me chegou ás mãos. Tenho andado com particular interesse no budismo. Sempre me atraiu a filosofia pela paz que todos os seus discipulos emanam no seu olhar na sua vida. é especial esta filosofia. O catolicismo é dado como a luz da páz, mas quando vamos descobrir está crregado nos seus meandros de hipocrisia e falta de verdade. Tenho me afastado cada vez mais das crenças religiosas cristãs, continuo a seguir a Biblia, mesmo sabendo pouco, as tertulias da terça, que já mencionei aqui num dos meus textos, tem me ensinado cada vez mais.
Já andei a pesquisar sobre esta fiolosofia, mas depois existem outros caminhos que nos seduzem mais e seguimos por aí, todos eles são validos para sabermos depois qual escolher no momento certo. Cada vez mais estes textos me tem vindo parar ás mãos e ao olhar para eles, e ler um pouco, me deixam a sentir que o meu caminho cada vez é mais por aqui, pelo menos a vontade de querer experimentar e continuar a seguir os textos não desaparece. Antes de experimentar quero chegar com o caminho que estou a percorrer neste momento, não quero ficar a meio deste, para seguir por outro, temo estar a pesnar como seria se tivesse continuado até ao fim neste. Não tenho, nem nunca tive problemas em chegar ao fim e perceber que me enganei no caminho e ter d evoltar para tras, afinal isso acontece-nos tantas vezes na vida quando andamos de carro e não sabemos o caminho, andamos á deriva e muitas vezes chegamos a becos sem saida que nos fazem voltar para tras.
deixco-vos á reflexão.

namasté

Com a compreensão “Esta é a Nobre Verdade sobre
Dhammacakkappavattana Sutta:
dukkha”, ó bhikkhus, nas coisas que antes não tinham
A Roda da Lei
sido entendidas, surgiram em mim a visão, o
conhecimento, a sabedoria, a ciência e a luz.
(Primeiro Discurso do Buda)
versão portuguesa a partir da tradução de Walpola Rahula
Com a compreensão “Esta Nobre Verdade sobre dukkha
www.uniaobudista.pt
deve ser compreendida”... “Esta Nobre Verdade sobre
dukkha foi compreendida”, ó bhikkhus, nas coisas que
“Assim escutei eu.
antes não tinham sido entendidas, surgiram em mim a
visão, o conhecimento, a sabedoria, a ciência e a luz.
O Bem-Aventurado, encontrando-se no Parque das
Gazelas, em Isipatana, perto de Benares, dirigiu-se assim
Com a compreensão “Esta é a Nobre Verdade sobre a
aos cinco bhikkhus (monges):
causa de dukkha”... “Esta Nobre Verdade sobre a causa
de dukkha deve ser destruída”... “Esta Nobre Verdade
Existem dois extremos, ó bhikkhus, que devem ser
sobre a causa de dukkha foi destruída”, ó bhikkhus, nas
evitados por um monge. Quais são eles? Apegar-se aos
coisas que antes não tinham sido entendidas, surgiram
prazeres dos sentidos, o que é baixo, vulgar, terrestre,
em mim a visão, o conhecimento, a sabedoria, a ciência
ignóbil e gera más consequências, e entregar-se às
e a luz.
mortificações, o que é penível, ignóbil e gera más
consequências. Evitando estes dois extremos, ó bhikkhus,
Com a compreensão “Esta é a Nobre Verdade sobre a
o Tathagata descobriu o Caminho do Meio que dá a visão,
cessação de dukkha”... “Esta Nobre Verdade sobre a
o conhecimento, que conduz à paz, à sabedoria, ao
cessação de dukkha deve ser compreendida”... “Esta
despertar e ao Nibbana.
Nobre Verdade sobre a cessação de dukkha foi
compreendida”, ó bhikkhus, nas coisas que antes não
E qual é, ó bhikkhus, este Caminho do Meio que o
tinham sido entendidas, surgiram em mim a visão, o
Tathagata descobriu e que dá a visão, o conhecimento e
conhecimento, a sabedoria, a ciência e a luz.
conduz à paz, à sabedoria, ao despertar e ao Nibbana? É a
Nobre Senda Óctupla, a saber: a visão justa, o
Com a compreensão “Esta é a Nobre Verdade sobre o
pensamento justo, a palavra justa, a acção justa, o meio
Caminho que conduz à cessação de dukkha”... “Esta
de existência justo, o esforço justo, a atenção justa, a
Nobre Verdade sobre o Caminho que conduz à cessação
concentração justa.
de dukkha deve ser desenvolvida e praticada”... “Esta
Nobre Verdade sobre o Caminho que conduz à cessação
Este, ó bhikkhus, é o Caminho do Meio que o Tathagata
de dukkha foi desenvolvida e praticada”, ó bhikkhus, nas
descobriu, que dá a visão, o conhecimento, que conduz à
coisas que antes não tinham sido entendidas, surgiram
paz, à sabedoria, ao despertar e ao Nibbana.
em mim a visão, o conhecimento, a sabedoria, a ciência
Eis, ó bhikkhus, a Nobre Verdade sobre dukkha. O
e a luz.
nascimento é dukkha, a velhice é dukkha, a doença é
Ó bhikkhus, enquanto este conhecimento real das
dukkha, a morte é dukkha, estar unido ao que não se ama
Quatro Nobres Verdades, sob os seus três aspectos e nas
é dukkha, estar separado do que se ama é dukkha, não ter
suas doze modalidades, não estava suficientemente
o que se deseja é dukkha. Em resumo, os cinco agregados
claro em mim, eu não proclamei a este mundo com os
de apego são dukkha.
seus deuses, Mara e Brahma, as suas turbas de ascetas e
Eis, ó bhikkhus, a Nobre Verdade sobre a causa de dukkha.
brâmanes, os seus seres celestes e humanos, que tinha
É esta “sede” (desejo, tanha) que produz a re-existência e
obtido o conhecimento incomparável e supremo. Mas,
o re-devir, que está ligada a uma avidez apaixonada e que
bhikkhus, quando este conhecimento real das Quatro
encontra uma nova fruição ora aqui, ora ali; isto é, a sede
Nobres Verdades, sob os seus três aspectos e nas suas
dos prazeres dos sentidos, a sede da existência e do devir
doze modalidades, se tornou perfeitamente claro para
e a sede da não-existência (auto-aniquilação).
mim, somente então proclamei a este mundo com os
seus deuses, Mara e Brahma, as suas turbas de ascetas e
Eis, ó bhikkhus, a Nobre Verdade sobre a cessação de
brâmanes, os seus seres celestes e humanos, que tinha
dukkha. É a cessação completa desta “sede”, o abandoná-
obtido o conhecimento incomparável e supremo.
la, o renunciar a ela, o libertar-se dela, o desapegar-se
E o conhecimento profundo surgiu em mim: inabalável é
a libertação da minha mente, este é o meu último
Eis, ó bhikkhus, a Nobre Verdade sobre a Senda que
nascimento e agora não haverá mais outra existência.
conduz à cessação de dukkha. É a Nobre Senda Óctupla, a
saber: a visão justa, o pensamento justo, a palavra justa, a
Assim falou o Bem-Aventurado e os cinco bhikkhus,
acção justa, o meio de existência justo, o esforço justo, a
contentes, louvaram as suas palavras.”
atenção justa, a concentração justa.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Flor Magica

A flor mágica

Era uma vez duas irmãs. Uma muito bonita e a outra muito feia.

Certo dia em que passeavam pelo bosque à procura de frutos silvestres, ouviram alguém chamar e gemer. Era o anão Malaquias. Tinha ficado preso num silvado e não conseguia soltar-se. A irmã bonita começou a rir. A feia cortou os espinhos e pousou o anão são e salvo no chão.

— Como forma de te agradecer, vou ensinar-te o caminho para a flor mágica — disse o anão. — Quem a levar ao rei, tornar-se-á rainha. Segue o ribeiro até à nascente. É aí, entre as pedras, que nasce a flor mágica.

Dito isto, desapareceu.

— Sou eu quem vai buscar a flor. Tu és demasiado feia para ser rainha — disse a irmã bonita à irmã feia.

E partiu imediatamente. Quando andara já um bom pedaço, encontrou um sacho no meio do caminho.

— Leva-me contigo — pediu o sacho.

— Não. Estás muito sujo — disse a rapariga, e prosseguiu.

Mais à frente, encontrou um regador no meio do caminho.

— Leva-me contigo — pediu o regador.

— Não. És muito pesado — disse ela, prosseguindo.

Mais à frente, encontrou uma corda no caminho.

— Leva-me contigo — pediu a corda.

— Não. Não serves para nada — respondeu a rapariga, seguindo caminho.

Quando o sol estava no seu ponto mais alto, chegou finalmente à nascente. Só que a nascente estava a secar, a terra, ressequida e a flor, murcha.

— O anão mentiu — disse a rapariga e, furiosa, regressou a correr pelo mesmo caminho.

— Vai agora tu — disse ela à irmã, no dia seguinte, contente por saber que ela iria fazer o longo caminho em vão.

A irmã feia fez-se, então, ao caminho. Quando já tinha andado um bom bocado, encontrou um sacho.

— Leva-me contigo — pediu o sacho.

— Com todo o gosto — disse a rapariga. — Se calhar, ainda vou precisar de ti.

E, com o sacho ao ombro, continuou. Mais adiante, encontrou um regador.

— Leva-me contigo — pediu o regador.

— Com todo o gosto — disse a rapariga. — Se calhar, ainda vou precisar de ti.

De sacho ao ombro e regador na mão, a rapariga continuou. Um pouco mais à frente, encontrou uma corda caída no caminho.

— Leva-me contigo — pediu a corda.

— Com todo o gosto — disse a rapariga. — Se calhar, ainda vou precisar de ti.

E lá continuou, com o sacho ao ombro, o regador numa mão, e a corda na outra.

Quando o sol tinha atingido o seu ponto mais alto, chegou à nascente, mas a fonte estava a secar, a terra ressequida e a flor mágica, murcha.

A rapariga pegou no sacho e escavou a terra. Com o regador, regou a flor. Por último, pegou na corda e com ela endireitou a flor. A flor começou então a reviver. A água subiu pelo caule até às folhas, o botão endireitou-se em direcção à luz e abriu-se. A rapariga observava, espantada.

Olhava para a flor e nem se deu conta de que, a pouco e pouco, ela própria estava a tornar-se tão bonita quanto a flor. Cortou-a e levou-a ao rei. O rei ficou muito contente ao ver a bonita rapariga com a flor e, tal como tinha prometido, fez dela rainha.

A irmã bonita, essa foi ficando cada dia mais feia com a inveja.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Amor e sabedoria


namasté
"Una o amor e a sabedoria.
O amor sem a sabedoria não tem direcção, e a sabedoria sem o amor é fria.

Havia dois homens, num deserto, incumbidos de fazer chegar peregrinos a um oásis. Um deles, com sabedoria, desprovido de amor, mostra aos viajantes a direcção certa, sem porém supri-los de recursos, e eles perecem no caminho. O outro, com amor, mas sem sabedoria, dá-lhes os suprimentos, sem assinalar-lhes o caminho correcto, e eles também se perdem nas areias ardentes.
Com amor e sabedoria você acerta em tudo o que faz.
Quanto mais amor e sabedoria, mais felicidade."

namasté